HISTORIA DE UM POVO HEROICO.....
Há mais ou menos trinta anos, na década de 1980, o outrora magnífico Gil Eannes jazia como podem ver acima, defronte da cidade de Lisboa.
Andava errante e escorraçado, de sítio em sítio, imprestável, abandonado, aparentemente condenado a um fim indigno da meritória carreira que construíra em mares longínquos - entre gelos mortíferos, tempestades tropicais e gente remota …
O Gil Eannes caía literalmente aos pedaços, enferrujando centímetro a centímetro as suas insígnias, o seu casco lendário e os seus interiores, que tinham salvo vidas e abrigado sonhos.
Como um fardo inútil, foi sendo empurrado de cais em cais, até se imobilizar no Cais da Rocha, onde o venderam, para abate, à empresa Baptista & Irmãos, Lda.
O Gil Eannes, exausto, estava, de facto, à beira do fim, sentenciado a desaparecer de vez sob a investida das máquinas trituradoras dos sucateiros…
Até que ocorreu o milagre!
Salvo pela gratidão e pela sensibilidade das pessoas, o navio estava já em Alhos Vedros quando a Comissão Pró Gil Eannes o foi buscar para ser rebocado até aos estaleiros de Viana do Castelo, no Norte de Portugal, onde ele nascera em 1955.
Aí o recuperaram, milímetro a milímetro, peça a peça, memória a memória. Insuflaram-lhe a vida antiga, tornando-o de novo altivo e acolhedor como sempre fora.
A Comissão deu entretanto lugar à Fundação Gil Eannes, actual proprietária do navio.
E este, ancorado no antigo porto comercial de Viana do Castelo, tornou-se num Museu flutuante, que abriu as portas ao público em Agosto de 1998 (pode ser visitado nos horários que abaixo se indicam).
As antigas enfermarias, de que o Gil Eannes dispunha, foram recuperadas por forma a poderem transformar-se numa Pousada da Juventude, com 65 camas disponíveis e uma acolhedora sala de convívio (serviço concessionado à Movijovem).
O Gil Eannes foi construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (Portugal).
Pronto em 1955, constituiu sem dúvida o maior desafio que até então se colocara à empresa desde o início da sua actividade, onze anos antes.
Foi projectado pelo Eng.º Vasco Taborda Ferreira para ser um navio-hospital de apoio à frota bacalhoeira portuguesa que operava nos distantes mares do Norte, nas águas da Gronelândia e da Terra Nova.
O Gil Eannes, na sua primeira viagem (1955), iria assistir uma frota pesqueira de 70 unidades, com um total de tripulações que ultrapassavam os 5000 homens.
Repetiria a missão, com imenso mérito, nos 18 anos seguintes, acabando por tornar-se conhecido, entre os que apoiava, pela gloriosa e significativa designação de Navio-Mãe da Frota Branca.
Também lhe chamavam a Misericórdia do Mar.
Muito justificadamente, tais eram as condições de indizíveis dificuldades que padeciam os nossos pescadores nessas águas impiedosas.
O Gil Eannes era, pois, um hospital flutuante. Mas não se reduzia a isso, como iremos ver.
Tinha um comprimento total de 98,40 metros, uma boca de 13,70 m e um calado de 5,50 m.
Possuía dois motores, que lhe podiam dar uma velocidade de 14,3 nós.
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Estava equipado com dispositivos contra incêndios, de que se destaca um sistema automático de inundação por meio de chuva, e um outro para alagamento dos porões de carga com gás carbónico, tudo associado a um equipamento de detecção de fumos.
Estava equipado com dispositivos contra incêndios, de que se destaca um sistema automático de inundação por meio de chuva, e um outro para alagamento dos porões de carga com gás carbónico, tudo associado a um equipamento de detecção de fumos.
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Possuía ainda um sistema de ventilação bastante evoluído, com uma caldeira que permitia uma temperatura ambiente de 18º C.
Possuía ainda um sistema de ventilação bastante evoluído, com uma caldeira que permitia uma temperatura ambiente de 18º C.
O casco estava reforçado para a navegação em mares com gelo.
Composto por 3 pavimentos devidamente apetrechados para todas as situações hospitalares, a sua capacidade permitia-lhe receber, em condições de normalidade, até 70 doentes.
No primeiro pavimento estavam instalados os gabinetes de consulta e de radiologia, apetrechados com o material mais moderno da época.
Dispunha de salas de espera e tratamento, câmara escura, enfermarias completamente isoladas para doentes infecto-contagiosos, camarotes para dois médicos, capelão e biblioteca.
No segundo pavimento ficavam uma enfermaria para oficiais, outra para doentes em observação, com os respectivos serviços sanitários, e a enfermaria geral com 40 camas separadas por divisórias, servidas por largas janelas que davam a possibilidade aos doentes de assistirem dos seus leitos à celebração da missa.
Este pavimento dispunha também dos alojamentos dos enfermeiros, sala dos curativos e gabinete do enfermeiro de vela.
No terceiro pavimento localizava-se o bloco operatório e de ortopedia, constituído por ampla sala de operações, apetrechada do necessário material, salas de desinfecção e esterilização, gabinete de agentes físicos e laboratório de análises.
Os três pavimentos ligavam-se por amplas escadas e elevador com maca para transporte de doentes.
Em eventual situação de emergência, a lotação do navio podia ser “esticada” até aos 320 doentes.
O Gil Eannes dispunha de local de culto.
Para além da capela da enfermaria, possuía uma capelinha que abria a toda a largura da tolda, onde sobressaía um artístico painel a óleo, da autoria do pintor Domingos Rebelo, representando ao centro Nossa Senhora dos Mares e tendo aos lados um pescador e um grupo familiar.
A assistência prestada pelo navio era magnífica e totalmente gratuita.
Se o enfermo fosse pescador de um navio de pesca à linha, recebia como pagamento, durante o período de internamento, uma quantia calculada segundo a média capturada pelos companheiros do navio a que pertencia.
Os cuidados humanitários eram prestados aos pescadores (e demais tripulantes) de qualquer navio que actuasse naquelas paragens da Terra Nova e da Gronelândia, fossem eles espanhóis, franceses, italianos, alemães, russos, ingleses ou das Ilhas Faroé…
Gil Eannes funcionou também como navio-correio, recebendo e distribuindo as correspondências e encomendas dos homens da frota.
Em cada campanha manuseava-se a bordo cerca de um milhar de encomendas recebidas em Lisboa para os navios e suas tripulações e encaminhavam-se de setenta a oitenta mil cartas trocadas entre os pescadores e seus familiares.
Por vezes juntavam-se a bordo, para serem seladas, três a quatro mil cartas e tornavam-se necessários bastantes voluntários para ajudar o tripulante encarregado de tal serviço.
O Gil foi ainda navio-abastecedor.
Os serviços de abastecimento aos navios da frota pesqueira eram efectuados sob as mais variadas condições de tempo e mar.
Durante a campanha distribuíam-se por esses navios cerca de 2000 quilos de isco congelado.
Também se forneciam 400 toneladas de água potável e 250 toneladas de combustível.
Recebiam-se em terra e entregavam-se aos navios, nos seus locais de pesca, cerca de 90 toneladas de mantimentos e largas centenas de redes e malhas.
Desde equipamentos e farmácias, desde reparações eléctricas até reparações electrónicas – de tudo se fazia para facilitar a vida aos nossos pescadores.
Outras meritórias funções do Gil Eannes: trabalhou como rebocador,salva-vidas e navio quebra-gelos.
Quando um dóri ficava encalhado no gelo, o Gil seguia para o local, quebrando o gelo com o seu casco de aço, e abria o sulco de retorno ao barco sinistrado.
Merece realce a assistência prestada ao navio Rio Antuã, que metia água pela proa.
O Gil Eannes navegou cerca de 14 horas à frente do barco sinistrado, quebrando com a força das suas duas máquinas a muralha de gelo que lhe surgia pela frente e permitindo assim, em condições excepcionais, que o Rio Antuã chegasse a St. John’s sem novidade de maior.
Por tudo isto lhe chamavam o Navio-Mãe da Frota Branca.
E, também, a Misericórdia do Mar.
O Gil Eannes foi envelhecendo…
Os tempos tornaram-se outros, com aquisições directas de bacalhau à Islândia e à Noruega.
A derradeira viagem do navio à Terra Nova ocorreu em 1973.
Ainda nesse ano fez uma viagem diplomática ao Brasil
Mais tarde rumaria à Noruega para de lá trazer bacalhau fresco nas suas câmaras de frio.
Também ajudou a trazer refugiados de Angola…
Depois foi sendo empurrado de cais em cais, como um objecto inútil.
Até que foi salvo, para nosso contentamento, por gente de engenho e coração...
O Gil Eannes resistiu!
Tempos de agora - O Gil Eannes ao anoitecer de Viana do Castelo
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Visitas
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Visitas
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Horário:
Verão (de Abril a Setembro) das 9h00 às 19h00
Inverno (de Outubro a Março) das 9h00 às 17h30
Horário:
Verão (de Abril a Setembro) das 9h00 às 19h00
Inverno (de Outubro a Março) das 9h00 às 17h30
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Aberto a visitas todos os dias incluindo sábados, domingos e feriados.
Preço:
Adultos e crianças com mais de 6 anos - € 2,00
Crianças com idades até aos 6 anos - Grátis
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O Gil Eannes como Pousada da Juventude
O Gil Eannes como Pousada da Juventude
Camarote Duplo - de 22 € a 24 € por dia, consoante a época do ano
Camarote individual - 16 € durante todo o ano
Quarto múltiplo - 9 € a 10 € consoante a época do ano
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Reservas
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Navio Gil Eannes
+ 351 258 821 582
Central de reservas - 707 20 30 30
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Fontes do texto:
Arquivos da Torre
Mário Esteves (comandante do Gil Eannes entre 1959 e 1971)
Brito Ribeiro
Alberto Abreu
Fundação "Gil Eanes"
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Fotos:
Clube de Oficiais da Marinha Mercante
Pedro Prata
Rosa Pereira
Brito Ribeiro
Dias dos Reis
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@PY1JMB BATISTA - RIO DE JANEIRO
@CT1EMH SOARES - PORTUGAL
@CT1EMH SOARES - PORTUGAL
Parabéns Toninho por este excelente trabalho de divulgação. Você como sempre se superando. Parabéns mesmo, meu querido e admirado amigo.
ResponderExcluir73/51
Charles - PU1-KLE